Leo
Moço, 29 anos, tinha muitas dúvidas
sobre seu futuro. Fez duas faculdades: análise
de sistemas e nutrição, e foi trabalhar
num hotel, na parte de informática. “Mas
estava insatisfeito”, conta o rapaz, presente
na Fenicafé de Araguari.
“Então resolvi abrir um cybercafé.
Ser patrão. E resolvi estudar sobre café.
Vi no Jô Soares um quadro sobre um barista,
e fiz um curso no Centro de Comércio de Café
do Rio de Janeiro (CCCRJ). Aí me apaixonei.
Não parei mais de estudar. Larguei o negócio.
Passei dois meses numa fazenda de Minas Gerais, em
Araponga. A fazenda Braúnas, de João
Mattos.”
“Depois fui pra São Paulo. Fiz curso
com a Isabela Raposeira. Participei de campeonatos
em 2005. Em 2006 e 2007, ganhei o Campeonato Carioca
de Baristas. O prêmio desta competição
é uma vaga na Copa Barista. Na edição
de 2008, que aconteceu em 2009, registrei o meu melhor
resultado, ficando em quinto lugar.”
“O segredo? Estudo e dedicação.
E amar o café. A cada ano que passa percebo
que tenho ainda muito o que aprender. Cada dia você
conhece um tipo novo, uma fazenda diferente. O café
brasileiro que eu mais gosto? É o Jacu, um
café recolhido nas fezes de pássaro.
O pássaro ingere o café e o defeca inteiramente,
realizando algumas mudanças químicas
que transformam o café. Na Indonésia,
há o kopi luwak, um café feito pelas
fezes do gato. Mas o Jacú é melhor,
porque o pássaro é vegetariano e não
tem intestino.”
“Não, não aconselho água
com gás antes do café, e sim um pouco
de água mineral, de preferência o mesmo
tipo usado para o café.”
“Na Copa Barista deste ano, o blend que usei
para o meu café foi 70% Brasil, 10% Índia,
10% Ruanda, e 10% Guatemala. Acho o café do
Brasil o mais complexo, o mais equilibrado, do mundo.
Mas é importante agregar temperos. Usei 70%
de Brasil para ter uma base boa, equilibrada. Os outros
serviram de temperos. O café indiano dá
um creme especial e tem um bom corpo. O da Guatemala
tem uma acidez de água na boca, dá um
toque cítrico, frutal. O de Ruanda tem uma
doçura extraordinária. Com esse café,
tive a maior nota do campeonato.”
“O pior problema do café consumido no
Brasil é a torra. O Brasil precisa estudar
melhor o processo e as tecnologias de torração.
E as cafeterias e restaurantes devem torrar semanalmente.
Depois de torrado, o café tem que descansar
alguns dias antes de ser consumido. Para mim, o café
está pronto para ser bebido do oitavo ao décimo
quinto dia depois de torrado. Depois disso, ele começa
a perder características. Isso vale principalmente
para o café espresso, porque o café
de filtro mantém apenas 20% de suas características,
então o consumidor não nota tanto a
diferença. O espresso, por outro lado, mantém
70% a 80%. O cafeicultor precisa estudar mais essa
parte do consumo. Falta mais investimento nesta parte.
Falta uma conscientização. Uma mudança
cultural. A cafeicultura brasileira precisa promover
mais a cultura do café.” |