Decorridos
sete meses da eclosão da crise econômica
mundial, ou seja, a partir do setembro negro, o café
parece ter sido um dos produtos menos afetados, pelo
menos de modo direto, pelos seus efeitos sobre a atividade
econômica. Os custos de produção,
que aumentaram de modo drástico no final de
2007, não foram impactados negativamente, observando-se,
inclusive, recuos de preços em importantes
insumos com acentuado peso na sua formação,
principalmente defensivos e fertilizantes, explicados
pelas enormes quedas dos preços do petróleo.
Do lado do câmbio, a nova realidade mundial
forçou a correção de um dos maiores
problemas da economia brasileira, representado por
uma perversa disparidade na relação
real/dólar, impondo a desvalorização
da nossa moeda. Houve, com isso, uma recomposição
da renda interna da cafeicultura, embora menor do
que a desejada, permitindo que a baixa das cotações
internacionais observada em todas as commodities no
auge da crise – no café próxima
de 15% – fosse neutralizada.
O consumo do café parece não ter sido
impactado e prossegue evoluindo nos mais importantes
mercados, embora a taxas de crescimento menores. Recente
estudo divulgado pela NCA (National Coffee Association),
dos Estados Unidos, principal consumidor mundial,
indica um bom desempenho do consumo do café,
não obstante o país tenha sido o mais
atingido na retração da economia, com
recessão e aumento do nível de desemprego,
o que justificariam quedas. No Brasil, segundo maior
mercado, a ABIC (Associação Brasileira
da Indústria), estima crescimentos a taxas
mais modestas.
Esse quadro, complementado pelo bom ajuste entre produção
e demanda mundiais, indica um cenário positivo
para os preços e sugere que o comportamento
do mercado seja orientado mais para os seus fundamentos
e menos para os humores da economia. Lembre-se que
há algum tempo os mercados de commodities em
geral, inclusive o café, tinham os seus preços
grandemente afetados pelas notícias econômicas
e seguiam raciocínios pragmáticos e
curiosos. Por exemplo, a interpretação
do mercado de que eventual pacote anunciado pelo governo
norte-americano não era suficiente para recuperar
a economia levava a quedas expressivas dos preços
pela dedução primária de que
ocorreria recessão, seguida de desemprego,
perda de renda e conseqüente queda generalizada
de consumo, sem levar em conta, no caso do café,
as singularidades e a estrutura do consumo.
Há, contudo, uma área na qual os efeitos
da crise foram e continuam a ser devastadores para
o café. Estou me referindo, é claro,
ao crédito. Com a crise, a banca internacional
reduziu as linhas de crédito concedidas aos
bancos brasileiros para o comércio exterior.
Com isto, os bancos reduziram as linhas de ACCs (Adiantamentos
de Contratos de Câmbio) dadas aos exportadores,
e as medidas anunciadas pelo governo limitaram-se
à solução dos problemas das instituições
financeiras, do repatriamento de capitais e do pessoal
dos derivativos, sem alcançar o comercial.
A contração do crédito ao comércio
exterior, agravada pelo enorme estoque de créditos
tributários carregados pelos exportadores,
aos quais o governo recusa dar liquidez, está
afetando a capacidade comercial das empresas exportadoras
e reduzindo o giro de negócios interno, influindo
sobre os preços e sobre a renda dos produtores.
Esta questão, que não parece ter solução
à vista, exacerba-se, no caso do café,
ante a iminência do início da próxima
safra. A situação de baixa liquidez
para o giro da comercialização da safra
cafeeira precisa ser revertida. O CDPC (Conselho Deliberativo
da Política do Café), que dispõe
sobre o uso dos recursos do FUNCAFÉ para o
financiamento da safra, deve debater e refletir seriamente
sobre este problema, deixando de lado ações
assistencialistas e imprimindo maior eficiência
na destinação dos recursos existentes.
A permanência do modelo atual, por certo, não
ficará impune.
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