A
cafeicultura brasileira experimentou, no dia 6 de
março deste ano, uma noite mais escura do que
o normal, e o dia seguinte amanheceu cheio de melancolia
e solidão. Geraldo Fonseca Siqueira, homem
do café, amigo de seus amigos, amor de seu
amor, pai modelo para seus filhos, amante das artes
e da vida, como diria Guimarães Rosa, “encantou-se”.
Nascido em Mutum, na zona da mata mineira, Geraldo
foi o filho caçula do fazendeiro, comerciante
e industrial João Teixeira de Siqueira; e de
Esther Fonseca Siqueira, pertencente a uma família
tradicional de intelectuais da mesma cidade; uma mulher,
descreve o neto João, “carinhosa, mas
de pulso forte”.
Por pouco, contudo, o café não perdeu
um de seus principais quadros intelectuais para um
grupo de ciganos que sequestrou o menino Geraldo durante
sua passagem pela cidade. Suas irmãs conseguiram
resgatá-lo a tempo.
Conforme a tradição de tantas famílias
de agricultores, preocupadas em proporcionar um futuro
mais promissor a seus filhos, os Siqueira mudaram-se
para Juiz de Fora assim que seus filhos atingiram
a idade escolar para que tivessem um ensino de melhor
qualidade. Único varão dentre os filhos,
Geraldo Siqueira costumava dizer que fora muito bem
cuidado: “eram seis mulheres (incluindo sua
mãe) para cuidar de mim”.
Cada um dos filhos aprendeu a tocar um instrumento
musical e, nos finais de semana, aconteciam saraus
que se tornaram famosos em Vitória, ES, para
onde haviam se mudado.
Segundo amigos, Geraldo Siqueira era um homem extremamente
elegante, um gentleman, de uma simpatia e simplicidade
cativantes, além de cortês; mesclava
uma educação “britânica”
com maneiras brasileiríssimas: era alegre,
espirituoso, brincalhão.
Outra característica marcante de Siqueira era
seu espírito democrático, que lhe fazia
tratar com chefes de Estado, ministros, além
dos intelectuais que conheceu através de sua
esposa, Maria Helena Teixeira de Siqueira, imortal
da Academia Espírito-Santense de Letras, com
a mesma elegância e afabilidade com que lidava
com o mais iletrado peão de suas fazendas.
Legítimo representante do “homem cordial”
descrito por Sérgio Buarque de Holanda, Geraldo
é um exemplo que desmoraliza aqueles que viam
nisso um defeito do caráter brasileiro - pois
ele conseguiu ser querido, amigo e aconselhador de
todos os seus empregados sem jamais perder a autoridade
de chefe.
Outra marca que deixará muita saudade era sua
inesgotável energia para curtir e aproveitar
a vida, pois Geraldo era um católico que seguia
à risca o exemplo de Jesus, o multiplicador
de vinhos: adorava festas e nunca declinava convite.
Participava, às vezes, de dois eventos num
só dia, afirmando que iria “fazer a minha
linha em um, depois vou para o outro; se fulano me
convidou, é porque me tem em grande conta;
preciso prestigiar quem me tem como amigo”. |