Com
o trabalho de todos os envolvidos, o ministro da Agricultura
confia que a racionalidade e o bom senso prevaleçam
e que as limitações impostas aos agricultores
brasileiros sejam resolvidas.
O dia 22 de julho de 2008 deu início a uma
nova polêmica envolvendo a agricultura brasileira.
Na ocasião, o Governo Federal publicou o Decreto
6.514, que altera a Lei de Crimes Ambientais e define
novas infrações e sanções
administrativas para quem não averbar Reserva
Legal (RL) — percentual de área que deve
ser conservado com vegetação nativa
— na propriedade, bem como proíbe a atividade
agrícola desenvolvida em Áreas de Preservação
Permanente (APPs), onde se concentra cerca de metade
da cafeicultura nacional.
Considerando que a legislação ambiental
foi criada em 1965 e mantém normas que não
condizem com a realidade da atividade agropecuária
atual, as lideranças do setor se manifestaram
contrárias às penalidades impostas e,
com o apoio do Ministério da Agricultura, Pecuária
e Abastecimento (Mapa), obtiveram, no dia 12 de dezembro,
a publicação do Decreto 6.686, o qual
concede um ano para o proprietário de terras
fazer a averbação da RL e dá
anistia aos que receberam multas e sanções
desde a entrada em vigor do Decreto 6.514.
É impossível, porém, não
mencionar o desgaste que passou a existir entre as
áreas agrícola e ambiental do Governo.
Algo que fica evidente, contudo, e não teria
como ser diferente, é que os agropecuaristas
podem contar com o apoio do ministro da Agricultura,
Reinhold Stephanes. “É válido
lembrar que o Decreto 6.514 tem uma moratória
(Decreto 6.686) de um ano, até novembro, conforme
negociação interministerial, e depois
volta a ser aplicado. Nesse período, apoiamos
a discussão dentro do Congresso para rever
alguns pontos do Código Florestal”, relatou.
Também vêm sendo desenvolvidos trabalhos
para que os Ministérios da Agricultura e do
Meio Ambiente cheguem a um consenso em alguns pontos.
“Entre eles, destacamos o uso de áreas
consolidadas em encostas e topos de morros, a soma
de APP com Reserva Legal e a recomposição
fora do bioma”, enumerou Stephanes, que completou
alertando que os produtores que estiverem em APP ou
sem RL poderão evitar as multas somente com
a mudança da legislação. “Portanto,
é importante uma mobilização
geral para a mudança do Código Florestal,
de forma que a agricultura brasileira permaneça
na legalidade, afinal, não se pode ir contra
a lei”.
E, falando-se em legislação, ao ser
questionado se o chamado “direito adquirido”
pode prevalecer nesse imbróglio entre agricultura
e meio ambiente — o Código Florestal
data de 1965 e a cafeicultura, por exemplo, está
instalada nessas virtuais áreas ilegais (APPs)
anteriormente a esse período —, o ministro
comentou que, em dois pareceres, os advogados e professores
Celso Antonio Bandeira de Mello e Arruda Alvim consideram
que o tempo da propriedade pode se constituir em um
direito dos produtores. Contudo, ponderou que é
necessária uma consulta formal ao Supremo Tribunal
Federal para obter o entendimento sobre essa questão.
“Enquanto isso, há que se trabalhar visando
a alteração de alguns pontos da legislação
atual, de forma que se evite a penalização
de quase um milhão de produtores rurais, entre
eles os de café”, indicou.
Desde
a publicação do Decreto 6.514, Stephanes
também deixou evidente sua flexibilidade,
bem como a do staff técnico de sua Pasta,
no que tange à negociação
com o Ministério do Meio Ambiente. No entanto,
essa postura não foi observada do outro
lado. Assim sendo, ele disse que uma parcela da
agricultura brasileira corre o risco de se tornar
ilegal. |
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Focadas
nessa questão, as forças que representam
os produtores rurais, em todos os seus segmentos,
estão mobilizando o Congresso Nacional para
discutir e atualizar o Código Florestal. “A
nossa responsabilidade é a possível
para que o Brasil ganhe, independente de posições
eventuais dos Ministérios”, destacou.
Em 24 de março deste ano, o Conselho Nacional
de Secretários de Estado de Agricultura (Conseagri)
se reuniu com o ministro para tentar definir os caminhos
a serem percorridos pelo setor em relação
à legislação ambiental. Stephanes
falou que esse é um assunto que precisa ser
tratado com racionalidade e fundamentação
técnica, mas, antes de tudo, é necessário
que haja participação dos segmentos
envolvidos e, consequentemente, o entendimento entre
as bancadas ruralista e do meio ambiente.
“O diálogo e o consenso são sempre
as melhores formas de se obter um resultado. É
claro que, historicamente, as decisões eram
tomadas, na maioria das vezes, por ambientalistas
com uma visão nem sempre correta. Hoje, nas
decisões que afetam diretamente a agricultura,
o Mapa tem um papel preponderante, principalmente
porque detém um conhecimento extraordinário
sobre meio ambiente, através da Embrapa, que
é o órgão com maior número
de especialistas na área”, frisou.
O ministro da Agricultura disse, ainda, que essa atuação
também é destacada, por unanimidade,
pelos secretários. “Todos consideram
a situação atual dramática caso
o decreto seja aplicado. Por isso, estão engajados
nas articulações para a alteração
do Código”, explicou ele, completando
que “os secretários concordam, ainda,
que um milhão de propriedades se tornarão
inviáveis à atividade agrícola,
o que causará imensos transtornos às
economias estaduais”.
Recordando que o Brasil é um país de
emprego, oportunidade e geração de novas
alternativas, além de grande produtor e exportador
de alimentos, Stephanes ressaltou a importância
da cafeicultura. “Os cafeicultores têm
uma parcela desta contribuição e não
podem parar de produzir, ficando sempre atentos à
sustentabilidade e ao uso da tecnologia. Espero que,
com o trabalho de todos, a racionalidade e o bom senso
prevaleçam e que essas limitações,
hoje impostas aos agricultores brasileiros, sejam
resolvidas”, concluiu.
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