A
rica experiência do colonato, mão-de-obra
que substituiu o trabalho escravo nas fazendas de
café do Estado do Rio de Janeiro, acaba de
ser resgatada pelo projeto “Saberes do Cotidiano
- Práticas da casa e da lavoura dos antigos
colonos da cafeicultura fluminense”, patrocinado
pelo Programa Petrobras Cultural. Com objetivo de
contribuir para a preservação e memória
do patrimônio imaterial, a iniciativa foi concluída
após mais de um ano de intenso trabalho, desenvolvido
no assentamento rural Santo Inácio, em Trajano
de Moraes, na Região Serra-Norte Fluminense,
e viabilizado pelo Instituto Trabalho e Cidadania,
do Rio de Janeiro.
O resultado final será registrado no livro
“Vida de colono – como viviam e trabalhavam
os antigos colonos da cafeicultura trajanense”,
com textos, fotos e ilustrações produzidas
pelos próprios antigos colonos e seus descendentes.
Com tiragem de 2.000 exemplares para distribuição
gratuita entre a comunidade, escolas e bibliotecas
públicas do Rio de Janeiro, o livro será
lançado em novembro, no próprio assentamento
– criado pelo Incra em 1987, onde hoje vivem
cerca de 350 pessoas. Na mesma data, será inaugurada
a exposição fotográfica, com
40 imagens, montada na fábrica da cooperativa.
Outro livro vai registrar a experiência pedagógica
de ensino e pesquisa desenvolvida pelo projeto.
O isolamento em que viviam os antigos colonos –
de origem italiana, espanhola ou descendentes de escravos
– os levou a desenvolver habilidades e saberes:
além de plantar e colher, processavam alimentos,
praticavam culinária própria e criavam
diversas técnicas baseadas em produtos naturais.
Preparavam chás e outros produtos terapêuticos
e desenvolviam um profundo conhecimento da natureza
regional, em seus aspectos climáticos e ambientais.
Essa foi a matéria-prima trabalhada pelo projeto.
Os trabalhos de pesquisa e ensino foram realizados
através de oficinas diárias, localizadas
no espaço cedido pela cooperativa do assentamento,
em Trajano de Moraes. Os participantes se reuniam
com duas jovens educadoras, Mara Gonçalves
e Rosinéia Estellet, também descendentes
dos protagonistas do projeto. A orientação
pedagógica foi realizada pela antropóloga
Elizabeth Linhares, em parceria com a educadora Wanda
Abrantes. “A idéia foi viabilizar o registro
pelos descendentes de colonos, a fim de promover a
reflexão sobre sua própria história
e a valorização do seu patrimônio
cultural”, explica a antropóloga, coordenadora
do projeto.
As atividades, que além do ensino e aperfeiçoamento
da leitura e da escrita, incluíram aulas de
fotografia, ilustração, coleta e embalagem
de plantas, envolveram cerca de 30 trabalhadores -
entre eles, o grupo que assumiu o trabalho de pesquisa
e produção, e os que colaboraram com
seus depoimentos e entrevistas. Além dos textos,
o saldo final foi um acervo de mais de mil fotografias
(fruto das oficinas do fotógrafo João
Ripper), e a coleta e identificação
de mais de 140 plantas tradicionalmente usadas pelos
antigos colonos. A bióloga Camila Rezende assinou
o inventário etnobotânico, sob orientação
da Dra. Ariane Peixoto, do Instituto de Pesquisas
Jardim Botânico do Rio de Janeiro.
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