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Março 2009 - Ano 88 - Nº 829

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A rica experiência do colonato, mão-de-obra que substituiu o trabalho escravo nas fazendas de café do Estado do Rio de Janeiro, acaba de ser resgatada pelo projeto “Saberes do Cotidiano - Práticas da casa e da lavoura dos antigos colonos da cafeicultura fluminense”, patrocinado pelo Programa Petrobras Cultural. Com objetivo de contribuir para a preservação e memória do patrimônio imaterial, a iniciativa foi concluída após mais de um ano de intenso trabalho, desenvolvido no assentamento rural Santo Inácio, em Trajano de Moraes, na Região Serra-Norte Fluminense, e viabilizado pelo Instituto Trabalho e Cidadania, do Rio de Janeiro.

O resultado final será registrado no livro “Vida de colono – como viviam e trabalhavam os antigos colonos da cafeicultura trajanense”, com textos, fotos e ilustrações produzidas pelos próprios antigos colonos e seus descendentes. Com tiragem de 2.000 exemplares para distribuição gratuita entre a comunidade, escolas e bibliotecas públicas do Rio de Janeiro, o livro será lançado em novembro, no próprio assentamento – criado pelo Incra em 1987, onde hoje vivem cerca de 350 pessoas. Na mesma data, será inaugurada a exposição fotográfica, com 40 imagens, montada na fábrica da cooperativa. Outro livro vai registrar a experiência pedagógica de ensino e pesquisa desenvolvida pelo projeto.

O isolamento em que viviam os antigos colonos – de origem italiana, espanhola ou descendentes de escravos – os levou a desenvolver habilidades e saberes: além de plantar e colher, processavam alimentos, praticavam culinária própria e criavam diversas técnicas baseadas em produtos naturais. Preparavam chás e outros produtos terapêuticos e desenvolviam um profundo conhecimento da natureza regional, em seus aspectos climáticos e ambientais. Essa foi a matéria-prima trabalhada pelo projeto.

Os trabalhos de pesquisa e ensino foram realizados através de oficinas diárias, localizadas no espaço cedido pela cooperativa do assentamento, em Trajano de Moraes. Os participantes se reuniam com duas jovens educadoras, Mara Gonçalves e Rosinéia Estellet, também descendentes dos protagonistas do projeto. A orientação pedagógica foi realizada pela antropóloga Elizabeth Linhares, em parceria com a educadora Wanda Abrantes. “A idéia foi viabilizar o registro pelos descendentes de colonos, a fim de promover a reflexão sobre sua própria história e a valorização do seu patrimônio cultural”, explica a antropóloga, coordenadora do projeto.

As atividades, que além do ensino e aperfeiçoamento da leitura e da escrita, incluíram aulas de fotografia, ilustração, coleta e embalagem de plantas, envolveram cerca de 30 trabalhadores - entre eles, o grupo que assumiu o trabalho de pesquisa e produção, e os que colaboraram com seus depoimentos e entrevistas. Além dos textos, o saldo final foi um acervo de mais de mil fotografias (fruto das oficinas do fotógrafo João Ripper), e a coleta e identificação de mais de 140 plantas tradicionalmente usadas pelos antigos colonos. A bióloga Camila Rezende assinou o inventário etnobotânico, sob orientação da Dra. Ariane Peixoto, do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro.

REVISTA DO CAFÉ - INÍCIO
 
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