As
grandes fazendas de café do médio vale
do Paraíba, em sua grande maioria, foram estabelecidas
pelo sistema de doação de terras, por
meio de pedidos de sesmarias realizados por abastados
imigrantes portugueses e seus descendentes, que, em
geral, tinham feito fortuna no comércio no
Rio de Janeiro ou na exploração de ouro
nas Minas Gerais.
No entanto, quando nos deslocamos para a região
serrana, próximo aos rios Negro e Grande, afluentes
do Paraíba, mais precisamente na região
de Cantagalo, nos deparamos com um grande número
de fazendeiros de café de origem suíça.
Em
1820, chegavam da Europa 228 famílias suíças
no navio Elizabeth et Marie, que logo formaram
a colônia de Nova Friburgo. O casal Leingruber,
com seis filhos (Antônio, Fidélis,
Frederico, João, Marcos e Maria), pois
um morrera durante a viagem transatlântica,
recebeu o lote número 26, como consta do
livro de 1819, Alojamento para reger o pagamento
provendo de matrícula dos colonos Suíços,
às folhas 13v. |
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São desconhecidas as razões que levaram
Anton Ignaz Leingruber, mulher e filhos a abandonar
o lote que lhes fora destinado. O fato é que
se estabeleceram em uma posse de terras na localidade
de São Sebastião do Alto, município
de Cantagalo. O patriarca da família, entretanto,
morreu em 1836.
Nos anos de 1855 e 1856, seu filho Fidélis
declarou possuir uma sesmaria de terras na freguesia
de Nossa Senhora do Carmo, João Batista e Marcos,
em São Sebastião do Alto, e Frederico,
em São Pedro, todas no município de
Cantagalo. Antônio Ignácio não
fez sua declaração, mas os vizinhos
o citam como confrontante, e sua fazenda estava localizada
na freguesia de Nossa Senhora da Conceição
do Paquequer, município de Sumidouro.
Dos seis filhos de Anton e Luzia, os que mais se destacaram
como fazendeiros de café foram Fidélis
e Antônio Ignácio. Este último,
desde 1848, aparece na listagem de fazendeiros da
freguesia de Aparecida, no Almanaque Laemmert, importante
anuário comercial e mercantil da corte do Rio
de Janeiro.
Antônio Ignácio casou-se com Mariana
Ubelhart, filha de Vicent Ubelhart, compatriota que
viera no mesmo navio com seus pais. Deste enlace tiveram
apenas dois filhos, Antônio e Manuel Ubelhart
Lengruber.
Em 1861, Antônio Ignácio vende metade
das fazendas Nossa Senhora da Glória e Abricó,
na freguesia do Carmo, nas quais possuía 218
escravos. O conde d’Ursel escreve em seu livro
Amerique: séjours et voyages au Brésil,
a la Plata, au Chili em Bolivie et au Pérou
par le Cte, que visitara a fazenda da Glória
do senhor Leingruber (Fidélis), e ressalta
que os pais deste vieram para o Brasil sem um tostão
no bolso, mas que seu filho possuía alguns
milhões, e, em sua fazenda, os escravos trabalhavam
cerca de doze horas por dia.
No caso de Antônio, não há relatos
sobre sua fazenda, mas, em 1880, seu filho Manuel
encomenda ao pintor italiano Nicolau Facchinetti uma
tela que imortalizaria todo o conjunto arquitetônico
da propriedade. A imensidão de seus prédios,
os cafezais que cobrem os pequenos morros atrás
do complexo de casas, e o terreiro de secar café
nos fazem imaginar a grandeza desta fazenda, que deve
ter sido uma grande produtora de café.
As atividades comerciais de Antônio Ignácio,
de compra e venda de imóveis, e de empréstimo
de dinheiro, eram sempre feitas por procuração
dada a seu filho Antônio Ubelhart, que residiu
na rua das Laranjeiras, no Rio de Janeiro, até
seu falecimento em 1881.
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Em
1885, morre Antônio Ignácio, e Manuel,
seu único filho vivo, faz o inventário
dos bens do pai. Curiosamente, vemos que a fazenda
Santo Antônio de Sapucaia possuía
apenas 370 mil pés de café e o número
de escravos não ultrapassava 210. No entanto,
o patrimônio acumulado por Antônio
Ignácio chega a mais de 1.800 contos de
réis, uma verdadeira fortuna, comparável
à de poucos grandes cafeicultores do médio
vale do Paraíba. |
Nas mãos de seu filho Manuel Ubelhart Leingruber,
a fazenda entra em uma nova fase, no final do século
XIX, com o fim da cultura do café em terras
fluminenses, que rapidamente se desloca para as terras
roxas de São Paulo. Diferentemente da opção
feita pelos fazendeiros do médio vale do Paraíba,
que iniciaram a criação de gado leiteiro,
ali foi implantada a criação de gado
de corte, a partir da importação, em
1878, das primeiras cabeças de gado da raça
Zebu. A linhagem Leingruber acabaria por se consagrar
uma das melhores raças de gado, conhecida por
todos os criadores brasileiros.
Desde então, mesmo após o falecimento
de Manuel, os demais proprietários da fazenda
Santo Antônio de Sapucaia seguiram a tradição
deixada por ele.
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