Em
homenagem ao centenário da imigração
japonesa no Brasil e simbolizando a abertura do caminho
para um destino afortunado, a cerimônia do Kagami
Biraki, marcou a solenidade inaugural da 22nd International
Conference on Coffee Science - ASIC 2008, no domingo
(14), na Casa de Campo do Royal Palm Plaza Hotel,
em Campinas. Com a presença de Nestor Osório,
Diretor Executivo da OIC, cerca de 480 pesquisadores
científicos, profissionais da indústria
e representantes de 38 países produtores e
consumidores estiveram reunidos no maior fórum
mundial sobre a ciência do café, com
o número recorde de 371 trabalhos apresentados.
Cerimônia
do Kagami Biraki. |
O
Instituto Agronômico de Campinas (IAC),
berço da pesquisa em café no Brasil
e uma das instituições fundadoras
do Consórcio Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento
do Café (CBP&D/Café), foi a
instituição anfitriã do evento.
Com foco sobre os assuntos científicos
da atualidade, dois temas foram enfatizados pelos
palestrantes: “Tendências do Consumo
e a Ciência do Café” e “Café
e Saúde”, além da apresentação
de resultados de estudos nas áreas de agronomia,
química, biotecnologia, processamento e
melhoramento do café. |
Esta
foi a segunda vez que o Brasil sedia a conferência
internacional, a primeira foi em 1982, em Salvador.
Em
seu pronunciamento, o presidente da ASIC, Andrea Illy,
destacou o papel de liderança do Brasil não
apenas na produção mundial e em programas
eficientes para o aumento de consumo interno, como
também na geração de conhecimento
e de tecnologias para a produção de
uma bebida de qualidade. Presidente do comitê
organizador da Conferência, Aldir Alves Teixeira
deu ênfase à troca de conhecimento e
experiências entre os participantes e instituições,
desejando que as relações tenham continuidade
no âmbito da ASIC para o aprimoramento do agronegócio
café mundial.
Foto oficial da 22nd International
Conference on Coffee Science
Dentre as autoridades presentes na cerimônia
de abertura, o diretor executivo da Embrapa, Kepler
Euclides Filho, apresentou o modelo de gestão
e as conquistas tecnológicas da primeira década
de atuação do CBP&D/Café.
Na opinião da pesquisadora do Instituto de
Tecnologia de Alimentos (ITAL), Marta Taniwaki, membro
do comitê científico da ASIC 2008, os
participantes levam uma imagem positiva do Brasil,
confirmada pela força do sistema agroindustrial
do café brasileiro e pela evolução
das pesquisas nas diferentes àreas de referência.
Homenagem
póstuma à Ernesto Illy
O
secretário do Meio Ambiente, Francisco Graziano
Neto, entregou à família Illy a Medalha
Paulista do Mérito Científico e Tecnológico
outorgada, em caráter póstumo, de homenagem
ao Dr. Ernesto Illy. O diretor Geral do Instituto
Agronômico de Campinas, Orlando Melo de Castro,
em nome do Secretário da Agricultura e Abastecimento,
João de Almeida Sampaio Filho, também
fez a entrega da Placa de Prata, em homenagem ao grande
incentivador da pesquisa e da qualidade do café.
Ainda em reconhecimento ao estudioso da bebida perfeita,
a artista plástica Valéria Vidigal,
em nome de toda a classe cafeeira, fez a entrega de
uma obra de arte à família Illy.
Diretor
do IAC, Orlando Castro, faz entrega
de medalha à família Illy. |
Aldir
Teixeira, Eduardo Carvalhaes,
Nathan Herszkowicz e Andrea Illy. |
A
Ernesto Illy se deve o aprimoramento da máquina
de “espresso”, idealizada pelo pai Francesco
Illy em 1935, e o crescimento de um mercado guiado
pela qualidade, credibilidade e o prazer de uma bebida
diferenciada. Na presidência da ASIC e da torrefadora
italiana illyCaffè, tornou-se conhecido pelo
empenho na divulgação de prêmios
de qualidade do café e pelo apoio à
mudança de percepção dos cafeicultores
sobre a importância de agregar valor ao produto.
Tendências
de consumo
A
mensagem central da Conferência é a de
que uma nova agenda de prioridades se apresenta para
a pesquisa cafeeira. Para Andrea Illy, o Brasil, além
de maior produtor, pode se tornar o maior consumidor
de café do mundo, meta que a ABIC pretende
atingir em até cinco anos. A taxa de crescimento
do consumo interno chega a 5% ao ano, mais que o dobro
da taxa média internacional, de 2%.
Nestor
Osório, diretor executivo da OIC, Carlos
Brando, consultor do Centro de Inteligência
do Café (CIC), Ivani Rossi, da TNS InterScience,
e Décio Zylbersztajn, coordenador do Pensa/USP,
apresentaram consenso no ciclo de palestras sobre
a “Ciência do café e Tendências
do Consumo”, alertando para um novo mercado,
orientado pelo prazer de uma bebida diferenciada
e sem culpa, com atributos de qualidade e praticidade,
aliado a preços justos e respeito a práticas
ambientais e sociais ampliadas. |
Nestor Osório, Diretor
Executivo da OIC |
Como define Brando, a ciência do café
é o fundamento e também o catalisador
para entender as demandas e fatores que ampliam o
consumo. Zylbersztajn enfatiza a necessidade de organização
e criação de mecanismos para um compartilhamento
de valor entre os diferentes setores da cadeia mais
eqüitativo. “Os produtores enfrentam uma
variabilidade de preços muito maior, necessitando
maior gerenciamento de riscos e agregação
de valor ao produto”, afirma.
Como exemplo modelar de impulso ao aumento de consumo,
o programa brasileiro Café e Saúde foi
apresentado aos participantes da Conferência,
com ações do Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento (MAPA) e Associação
Brasileira da Indústria do Café (ABIC).
Resultados de pesquisas científicas apresentados
corroboram para a desmistificação de
que o consumo moderado de café faz mal à
saúde. Destaque nesta área para o estudo
da pesquisadora Adriana Farah, da Universidade Federa
do Rio de Janeiro (UFRJ), em projeto apoiado pelo
CBP&D/Café, sobre os efeitos dos ácidos
clorogênicos na saúde humana.
Tecnologias
integradas
De
acordo com a observação de Romário
Gava Ferrão, pesquisador do Instituto Capixaba
de Pesquisa e Extensão Rural (Incaper), os
trabalhos apresentados na área de melhoramento
do cafeeiro sinalizam para uma necessidade de priorizar
o desenvolvimento de variedades com tolerância
à seca e às altas temperaturas, bem
como a integração com estudos ligados
à Fisiologia e em condições de
sombreamento, visando potencializar o desempenho de
cultivares não apenas a pleno sol. Outra linha
de estudo demandada refere-se à identificação,
conservação e caracterização
de recursos genéticos.
Na avaliação de Romário, a Conferência
confirma a necessidade de maior integração
entre o melhoramento do cafeeiro com as tecnologias
disponibilizadas pela biotecnologia. Esta também
é a mensagem que o pesquisador da Embrapa Café
na área de biotecnologia, Luiz Felipe Pereira,
observou acerca dos trabalhos apresentados na ASIC
2008. Para ele, está cada vez menor a distância
entre as tecnologias genômicas e os programas
de melhoramento do cafeeiro, o que trará resultados
práticos no desenvolvimento de cultivares com
as características agronômicas desejáveis.
Pereira diz perceber uma maior integração
entre os profissionais das duas áreas, bem
como o aumento de projetos de cooperação
interinstitucional. Ele explica que hoje o Projeto
Genoma está na fase de caracterização
e seleção de genes específicos,
já sendo possível a identificação
de plantas com maior potencial de qualidade.
Visita
aos campos
O
roteiro tecnológico incluiu visitas ao Instituto
Agronômico de Campinas (IAC), instituição
anfitriã da Conferência, e à bicentenária
fazenda cafeeira Tozan. Os visitantes assistiram a
um vídeo na sede do IAC, fundada em 1887, por
D. Pedro II, com um resgate das conquistas e desafios
enfrentados pela instituição, sobremaneira
na área de melhoramento genético do
cafeeiro, com programas que resultaram em cultivares
utilizadas em cerca de 90% do parque cafeeiro nacional
e em outros países produtores. Na Fazenda Santa
Elisa, os visitantes conheceram um dos mais completos
bancos de germoplasma e alguns experimentos conduzidos
pela equipe multidisciplinar do Centro de Café
“Alcides Carvalho”, com a participação
de profissionais de outros centros. Atualmente, a
identificação de plantas tolerantes
à seca e ao calor tem sido o foco dos estudos,
em vista das preocupações de aquecimento
global e mudanças climáticas. Estudos
com o café robusta como nova opção
aos cafeicultores paulistas também têm
sido objeto das pesquisas.
Os participantes da ASIC 2008 visitaram a fazenda
Tozan, propriedade de um milhão e 350 mil pés
de café, localizada há 12 quilômetros
de Campinas (SP). Produtora de café há
mais de 150 anos, a fazenda guarda passagens marcantes
no fortalecimento da cafeicultura paulista e participação
ativa na imigração e colonização
japonesa no Brasil. Desde 1927, a fazenda pertence
à família Iwasaki, fundadora do Grupo
Mitsubishi. Embora a tradição seja o
ponto forte da propriedade, os avanços tecnológicos
podem ser vistos em cada etapa da produção. |