Findos os seus primeiros 100 anos,
o Centro do Comércio de Café do Rio
de Janeiro demonstra fôlego e garra para enfrentar,
com o mesmo pulso firme e ideal, esse novo século
que se inicia. E com uma vantagem adicional sobre
as dez décadas anteriores: a experiência
e o conhecimento adquiridos nesse longo período,
em que não só o café e o comércio
exportador, mas o mundo inteiro, viveram momentos
alternados de notável prosperidade e de grandes
crises.
A reforma estatutária ocorrida
no início de 2000, que estabelece novas atribuições
à entidade - como o revigoramento das exportações
pelo porto do Rio e ações de caráter
institucional, por meio de convênios com escolas
e universidades -, comprova essa disposição
do CCCRJ de se manter atualizado para absorver e superar
obstáculos da classe, e de buscar permanentemente
novos horizontes e oportunidades de atuação.
"A
administração patrimonial imprimida
ao centro, nos anos recentes, baseada em critérios
técnicos e empresariais, assegurou a recuperação
e o fortalecimento econômico da entidade. Porém,
a preservação da instituição
exigia muito mais", explica o exportador Guilherme
Braga Abreu Pires Filho, presidente do CCCRJ (terceiro
mandato), dizendo que não teria coerência
buscar justificar e manter viva a entidade apenas
a partir de seu patrimônio como fator agregador.
"Era urgente encontrar novas opções
e novos caminhos de atuação, que estimulassem
e dessem razão de ser à existência,
voltando a unir os seus associados em torno de ideais
e de questões de interesse mútuo. Sem
isso, poderia se ter uma entidade rica, mas sem sentido
e identidade comum".
:.
Participação ativa
Um dos principais compromissos do
CCCRJ, segundo seu presidente, é justamente
fazer com que o café continue sendo uma riqueza
nacional. "Em todos esses anos não houve
- e não há - nenhum produto tão
importante para a economia brasileira quanto o café.
E nós temos que continuar trabalhando para
que ele possa continuar a ser uma atividade geradora
de renda, de riqueza e de empregos. E é função
das entidades de classe, além de cuidar de
aspectos de aprimoramento das estruturas, com a modernização
permanente das atividades, defender institucionalmente
a cultura cafeeira", define.
Nesse sentido, o incremento das exportações
de café pelo porto do Rio está entre
as prioridades atuais da entidade. Trata-se de um
trabalho que vem sendo realizado desde meados dos
anos 90, e que já colhe os primeiros resultados.
Antes da década de 80, o porto detinha cerca
de 20% das exportações. Na década
de 80, caiu para 2% ou 3%, e hoje voltou para cerca
de 15% a 16%. "Nós montamos toda uma estrutura
para o café, com um bom sistema de controle.
Foi uma iniciativa nossa como uma prestação
de serviço para o café, para o Estado
e para a própria cidade. E o próprio
porto de beneficiou muito, porque atraiu linhas de
navegação que não aportavam aqui",
diz Braga.
Outro
projeto em andamento no CCCRJ, e que integra as recentes
reformas de seus estatutos, é o chamado Centro
de Memória e Referência de Café.
"A idéia é fazermos um ambiente
cultural em torno do café, onde inclusive consigamos
interligar todas as bibliotecas de café do
País", explica Guilherme Braga, acrescentando
que também querem organizar, dentro desse projeto
(que deve ser autofinanciado), programas específicos
para estudantes, com temas variados sobre café,
como lavoura e combate a broca, por exemplo, além
de cursos na área de comércio internacional.
:. O surgimento de uma
classe
A
preocupação, segundo Guilherme Braga,
é capacitar cada vez mais os agentes do comércio
exportador, uma profissão que surgiu no Brasil
em paralelo ao crescimento das próprias exportações
de café, juntamente com o CCCRJ, no início
do século XX.
"Por
isso, para se entender a importância da entidade
e do comércio de café, é imprescindível
que se tenha total percepção da história
do café e do desenvolvimento da atividade exportadora
no País", sintetiza Braga. "Estamos
próximos de completar 300 anos de café
no Brasil", lembra ele, salientando que, sem
dúvida, "os últimos 100 anos foram
o período mais auspicioso e áureo do
café. Foi o período em que o produto
teve uma importância social e econômica
indiscutível, tendo sido o responsável
pelo desbravamento da fronteira agrícola pela
geração do potencial do desenvolvimento
econômico brasileiro", diz.
Segundo
Braga, quando o Centro do Comércio de Café
foi criado, vivia-se um momento muito especial dessa
história. A produção de café,
que surgiu no Rio de Janeiro como cultura economicamente
importante para o País, estava migrando para
outras regiões. Mas, mesmo não sendo
mais o maior produtor, o Estado detinha uma grande
importância comercial - possuía a Bolsa
do Café, a primeira do Brasil, e toda a estrutura
portuária - e ainda contava com o prestígio
e o peso político de ser a sede do governo
federal.
Nessa
época, a atividade comercial era feita praticamente
pelos lavradores que, em carros de boi, levavam seus
cafés para serem vendidos no Rio. Porém,
mesmo incipiente, já começava a haver
uma certa especialização da atividade
- o que se concretizaria a partir dos anos 30, com
a instalação de grandes casas inglesas
e alemãs, marcando o surgimento da figura do
exportador.
"O
Centro do Comércio do café, na verdade,
se antecipou ao seu próprio tempo", define
Braga, justificando a importância da entidade
no surgimento do que viria a ser o profissional do
comércio de café. "As casas inglesas
que se instalaram no Brasil, por exemplo, além
da própria vocação, trouxeram
consigo toda a sua tradição e experiência
comercial". Uma características que muito
influenciou o comércio exportador nacional
foi, por exemplo, a forma com que atuavam, privilegiando
a interiorização, ou seja, possuíam
postos de compra nas próprias regiões
produtoras e ainda beneficiavam o produto.
Ao
ser criado, portanto, o CCCRJ passou a incorporar
todas essas tendências de mercado, atendendo
à necessidade prioritária de auto-ordenamento
do setor e de defesa dos interesses das pessoas ligadas
ao café. "Foi uma iniciativa própria,
realizada com recursos dos associados, sem nenhuma
ajuda do governo", define Braga que, aliás,
credita como fator determinante para o sucesso da
entidade o fato dela ter sido criada antes da efetiva
interferência estatal no mercado de café.
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