(continuação)
Em
meados dos anos 80, os exportadores e a própria
lavoura defendem a redução da participação
do Estado nos negócios de café. O Centro
do Comércio de Café do Rio condenava
a sufocante presença do IBC nas transações
do produto e repudiava "por ineficaz e desnecessária
qualquer atuação direta do IBC nos atos
do comércio". Sugeria a entidade, também,
que fosse criada sob coordenação do
órgão oficial do café um Comitê
de Comercialização Externa, representativo
dos vários centros de comércio de café
brasileiros.
Em
1985, o comércio cafeeiro manifestou-se por
uma política de preços permanentemente
competitiva em comparação com os preços
das demais origens; que o preço do café
fosse atrativo a todos os segmentos do mercado comprador
mundial e que os preços de venda permanecessem
abertos durante um período de 90 dias, ficando
a critério do IBC o contingenciamento de volumes
mensais, segundo a evolução dos registros.
Por
unanimidade, o comércio cafeeiro do Rio de
Janeiro sugeria que o IBC deveria optar entre as seguintes
alternativas em relação aos regulamentos
da OIC: adequação do volume contratado
à quota brasileira através dos contratos
firmados com os torradores, com o sistema de quotas
individuais para os exportadores; uma vez não
alcançado esse objetivo, seria introduzida
uma política generalizada de preços
flexíveis atrativos a todos os segmentos do
mercado comprador mundial. Ou, suspensão imediata
dos contratos de fornecimento, com a adoção
de uma política generalizada de preços
flexíveis a esses segmentos interessados.
Esse
forte movimento para que a intervenção
do governo fosse menor, mais o fato de ter diminuído
sensivelmente a participação do café
na economia e na receita cambial, culminaram com a
ruptura do Acordo Internacional do Café em
meados de 1989 e com a extinção do IBC,
no primeiro semestre de 1990, pelo Governo Collor.
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Iniciativa Privada e Governo
O
final dos anos 80 e a década de 90 marcam mais
uma grande transformação nos costumes
de praticamente todas as sociedades. A comunicação
via satélite, a popularização
dos microcomputadores e a Internet encurtam as distâncias,
aproximam os homens e aceleram os negócios
em todos os cantos do mundo. Neste novo cenário,
o mundo cafeeiro vê crescer a concorrência
de outros produtos, como refrigerantes e achocolatados,
mas vê também a oportunidade de iniciar
a abertura de novos nichos de consumo, e uma palavra
passa a ser chave no mercado: qualidade e valor agregado.
No Brasil, com o IBC abruptamente
extinto, o mercado se vê órfão,
tendo que encontrar ele próprio os seus caminhos.
E em meio à crise decorrente, internamente,
da extinção do IBC e, externamente,
da ruptura do Acordo Internacional do Café,
o mercado realiza a histórica reunião
em Varginha, em 13 de junho de 1991, que resultou
na criação do CBC - Comitê Brasileiro
do Café, formado pelos quatro setores (produção,
exportação, indústria de café
solúvel e indústria de torrado e moído),
entidade que, a partir daquela data, passaria a ser
o interlocutor oficial do complexo cafeeiro com o
Governo.
A
mesma necessidade de estruturar-se levou os países
produtores de café a se unirem, também
em data considerada histórica pelo mercado.
Reunidos no CCCRJ, nos dias 29 e 30 de julho de 1993,
Brasil, Colômbia, El Salvador, Costa Rica, Guatemala,
Nicarágua e Honduras superaram os pontos polêmicos
e firmaram o acordo que implantava o Plano de Retenção
e fundava a APPC - Associação dos Países
Produtores de Café. O objetivo era estabelecer
uma política de equilíbrio do mercado
mundial, sem perder de vista o estímulo ao
consumo, com o apoio à qualidade do produto.
O plano entrou em vigor antes mesmo de ser implantada
a entidade, estabelecendo critérios percentuais
em relação à produção
dos países signatários do acordo, de
forma a reguardar-se a isonomia na retenção.
Em 1996, outro marco histórico
dessa década de 90. Por meio do Decreto nº
2047, de 29 de outubro, foi oficializada a criação
do CDPC - Conselho Deliberativo da Política
do Café, órgão que marcou o início
da co-gestão governo-iniciativa privada para
o Fundo de Defesa da Economia Cafeeira (Funcafé)
e para a política cafeeira nacional.
Com a criação do CDPC,
os agentes do agronegócio café selavam
a participação da iniciativa privada
nas decisões de seus próprios negócios,
sem retornar à época de intervenções
do Estado na economia cafeeira. Em seu discurso feito
momentos antes da assinatura do decreto, o presidente
Fernando Henrique Cardoso resumiu a importância
daquele momento: "Era impossível que uma
planta como o café, uma produção
como a do café, que agregou tanto ao País,
tivesse ficado segregado das decisões do Estado.
E que o Estado, em sua insolência, em certos
momentos, pudesse tomar decisões às
vezes danosas sobre a cafeicultura, sem que os cafeicultores
participassem do processo de elaboração
da política, do controle das decisões
e do aconselhamento daquele que seria o melhor caminho".
A
década foi marcada ainda por nova geada, em
1994; pelo fortalecimento de novas regiões
produtoras no Brasil, como cerrado baiano e Rondônia;
pelo maior plantio de cafés conillon (robusta
africano), e pelo surgimento da concorrência
de novos ou não tão novos países
produtores de café, a exemplo do Vietnã.
Novos mecanismos, como a própria retenção,
continuam sendo utilizados como uma forma de ordenar
o mercado e elevar o preço do café.
Mas, cada vez mais, fica comprovado que a melhor forma
de se atenuar a pressão causada pelos excessos
de produção está no aumento do
consumo em todo o mundo. |