(continuação)
:. Capital do Café
Com
isso, no início do século XIX, o Rio
tornou-se a capital do café no Brasil. Nas
palavras do Monsenhor Pizarro, um dos historiadores
do café no Rio, em 1820, "dos lugares
mais fartos dessa planta e melhor cultivados até
o ano de 1800, eram superiores os da Tijuca, e toda
a sua circunferência em volta da Gávea
e da Lagoa de Rodrigo de Freitas; o da Fazenda chamada
de Mendanha, na Freguesia de Campo Grande, donde se
extraiu toda a planta, ou a maior parte dela, que
principiou a povoar as terras mais distantes além
da Serra, como as de São João Marcos,
a de Campo Alegre, de cujos sítios assaz pródigos,
e pela sua frescura mui próprias à sustentação
do arbusto, se exportam hoje as porções
mais consideráveis desse grão; e, finalmente,
a Fazenda que foi de Ignácio Xavier Salgado,
sita na Freguesia de N. S. da Guia de Pacobaíba,
onde as árvores sustentadas em lugares altos
eram corpulentas pela boa cultura que tinham".
Continua o historiador dizendo que "os frutos
criados mais ao sol que à sombra, são
de melhor qualidade, e as árvores também
prosperam na mesma igualdade, quando o terreno fresco
alimenta as suas fibras naturalmente secas".
Começavam
assim as primeiras observações sobre
essa nova cultura, desconhecida em termos de botânica
pelos fluminenses que a foram plantando empiricamente,
encontrando pela tentativa e erro os melhores sítios.
Dessa forma, o café foi migrando da cidade
do Rio para outras regiões do Estado, como
Resende, e pelas terras férteis do vale do
Paraíba. Em outra direção se
alastrou para as serras, ocupando distritos que vieram
a se tornar prósperos graças ao café,
como Vassouras, Valença e as regiões
do Rio Preto e do Paraibuna. Também cresceram
as plantações na direção
de São Gonçalo e de toda a Baixada Fluminense,
tomando o lugar dos canaviais que antes dominavam
a paisagem e se espalhando por Angra, Cabo Frio, Mangaratiba,
Itaguaí, Macaé, Saquarema, Araruama
e Maricá.
:.
Crescimento Acelerado e Desordenado
O crescimento vertiginoso da produção
brasileira de café no século XIX, com
base principalmente na produção fluminense,
fez com que em 1870 o café já respondesse
por 50% das exportações do País,
com uma produção de cerca de 3,8 milhões
de sacas de 60 quilos.
Foi
um período áureo para o crescimento
da cultura no Brasil e ao mesmo tempo uma fase de
grandes mudanças no comércio mundial
do café, uma vez que as produções
de outros países, como Java e Ceilão,
entraram em declínio, deixando um espaço
que foi prontamente preenchido pelo Brasil. O grande
produtor do século anterior, o Haiti, também
estava com sua produção declinante.
Dessa forma, na década de 1890 o Brasil já
se tornara responsável por 70% da produção
mundial, embarcando, pelo porto do Rio de Janeiro,
entre 10 e 15 milhões de sacas para um mercado
calculado em 20 milhões de sacas consumidas
anualmente.
Nessa
época, o café já sustentava a
economia brasileira, conforme diz o exportador e especialista
em comércio de café E. Johnston, no
livro "150 anos de Café", (escrito
em conjunto com Marcelino Martins e com textos de
Edmar Bacha e Roberto Greenhill). "Ele rendia
mais de três quintos das divisas do Brasil,
que pagavam os produtos manufaturados importados e
o serviço da dívida externa". Além
disso, segundo os autores, o "cultivo bem sucedido
do café estimulava o crescimento populacional,
a urbanização e o desenvolvimento industrial.
Ele também incentivava a construção
de ferrovias e rodovias para transportar as colheitas
até os portos".
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