(continuação)
:. O Ressurgimento nos anos 90
A perda do prestígio do Porto
do Rio de Janeiro teve causas econômicas e históricas.
A migração da produção
de café do Rio para outras regiões produtoras
foi a principal dessas causas, mas não a única.
A desestruturação do porto, em termos
de infra-estrutura portuária e de comércio
cafeeiro, aliadas à legislação
do ICMS vigente na década de 80, que encareceu
as exportações através do Rio,
e mesmo a falta de investimentos em serviços,
tiraram-lhe suas possibilidades como porto exportador
de café. Em 1991 foram embarcadas apenas 602.023
sacas de 60 quilos de café. Mas foi também
a partir dessa época que os exportadores fluminenses
e o Centro do Comércio de Café do Rio
de Janeiro iniciaram um movimento para fazer com que
o Rio voltasse a ser um referencial como exportador.
Em 1992 a diretoria da Companhia Docas
do Rio de Janeiro e o CCCRJ iniciaram uma associação
que teve como meta estimular as exportações
de café, único produto capaz de apresentar
resultados positivos em curto prazo. Em uma reunião
feita entre as duas entidades ficou claro que havia
a possibilidade de reativação das exportações,
uma vez que "em 1980 a receita cambial do café
correspondente aos embarques pelo porto do Rio de
Janeiro chegou a 400 milhões de dólares",
segundo a Revista do Café, enquanto que em
1991 esta receita foi de apenas 44 milhões.
Além disso, avaliou-se "que o Estado já
abrigou armazéns de café que empregavam
35 mil trabalhadores... e que o Rio já foi
sede de meia centena de empresas exportadoras de café,
enquanto hoje estão reduzidas a 15 e, mesmo
assim, responsáveis por 25% do volume comercializado
no País e no exterior".
Na reunião, o então
presidente do CCCRJ, Orlando Corrêa, lembrou
que "o Rio ainda detém importantes vantagens
comparativas, as quais habilitariam o Estado a concentrar
parcela muito maior do comércio de café".
Uma dessas vantagens seria, inclusive, a possibilidade
do embarque de café em contêineres, já
que o porto dispunha já na época de
um terminal especializado na operação.
Assim
surgiu um plano de reativação que previa
aumentar os embarques de café para 15% do total
exportado pelo Brasil, o que ocorreu após a
reestruturação de parte da infra-estrutura
para armazenamento do café no porto, em 1997,
"com a inauguração deste que deverá
ser, sem favor, o mais moderno, seguro e ágil
terminal de estufagem de contêineres do País",
nas palavras do então presidente da CCCRJ,
José Peracio.
Segundo ele, no discurso de inauguração
do Terminal para o Café no Porto, "nosso
objetivo primordial foi criar condições
que possibilitassem ao Rio de Janeiro retomar, ainda
que parcialmente, a posição de destaque
que outrora ocupava no cenário cafeeiro nacional,
sobretudo na década de 60, quando os embarques
pelo porto local atingiram o expressivo contingente
de 4.733.035 sacas de café beneficiado (safra
59/60), volume equivalente a 27,31% das exportações
globais do País naquele ano".
Se ainda não se chegou a tanto, a movimentação
de café no porto do Rio de Janeiro este ano
comprovou a viabilidade do objetivo. De janeiro a
outubro de 2001 "o Rio exportou 2,8 milhões
de sacas de café, volume equivalente a 17,25%
dos embarques totais do produto feitos pelo Brasil
no período", de acordo com dados oficiais
do Cecafé. Ou seja, houve um crescimento de
297% no movimento em comparação ao volume
exportado no mesmo período de 2000 e "os
números, no caso do café, são
resultados de investimentos feitos pelo CCCRJ em parceria
com os grupos Multiterminais e Libra".
Ao todo, foram investidos cerca de
R$ 800 mil e mais investimentos vêm sendo feitos
na infra-estrutura do Porto, que hoje oferece segurança
e uma série de vantagens com a supervisão
efetiva do CCCRJ de todos os serviços executados,
pesagem dos caminhões e contêineres em
balanças de última geração,
eletrônicas e com sistemas antifurto, entrada
dos caminhões a qualquer hora de chegada aos
terminais com segurança, equipes da Receita
Federal com salas nos Terminais, rapidez na liberação
de documentação e outras como pesagem
dos big-bags por amostragem e sistemas antifurto,
pesagem dos contêineres antes e depois de estufados
com o compromisso de lacragem pela CCCRJ, isenção
de taxas, preços competitivos de embarque e
uso intensivo de novas tecnologias para rapidez de
embarque e desembarque.
Essas vantagens estão fazendo
com que as companhias de navegação voltem
a fazer mais escalas no porto do Rio, principalmente
nas rotas rumo ao norte da Europa, um dos principais
destinos de exportação do café
brasileiro. E, embora ainda haja muito por fazer em
termos de infra-estrutura, principalmente no transporte
intermodal e na estrutura de armazenagem e beneficiamento
nas regiões de tráfego do café
das regiões produtoras para o porto - como
no caso do sul de Minas Gerais, que fica eqüidistante
dos portos de Santos e do Rio, e poderia, portanto,
ter neste último uma opção vantajosa
de embarque, o potencial exportador do Porto do Rio
é incontestável.
O
principal, porém, já foi feito: o café
voltou ao porto do Rio. E vai continuar, já
que investimentos e geração de recursos
geram mais investimentos e recursos. Principalmente
se há, como no caso, condições
de competitividade com outros portos, tecnologia disponível,
busca incessante de solucionar os problemas de acesso
/ transporte e vontade política de fazer ressurgir
o porto como uma referência nas exportações
de café. |